Numa das noites em
Lagos, encontrei, por acaso, um postal com uma fotografia, da realizadora francesa
Agnes Varda, intitulada “Sofia Loren em Portugal”, Póvoa de Varzim, 1956
(Edições 19 de Abril, 1997), que faz parte de uma reportagem que cobriu diversas
regiões do país. As memórias dessa viagem estão na obra “Os filmes e as
fotografias”, editada pela Cinemateca, em 1993. Em 2011, a cineasta regressou para
apresentar no DocLisboa uma série de episódios sobre as suas viagens pelo mundo,
onde se inclui essa passagem por Portugal, em meados do século passado.
A fotografia tem uma
história que aqui se resume: Agnes Varda pediu a uma mulher poveira que fosse passear
para uma rua onde houvesse muita luminosidade, sob um cartaz meio rasgado com a
Sofia Loren. A composição fez dela uma referência quando se invocam fotógrafos
célebres que retrataram o nosso país. A humildade dos seus pés descalços
contracena com o sorriso da diva a publicitar um sabonete. Contudo, pese embora
a encenação, o que me chama mais a atenção é a pose altiva e determinada da
modelo fotografada: Maria do Alívio Marques Rosa. Lavadeira de profissão,
faleceu em 11 de Setembro de 2010, curiosamente, no mesmo dia em que Sofia
Loren veio a Portugal, pela primeira vez, para ser homenageada no Douro Film
Harvest. Cinquenta e quatro anos depois, o destino voltou a cruzá-las numa estranha
coincidência. Maria do Alívio teve uma vida nos antípodas do glamour cinematográfico, mas tinha uma
elegância de fazer inveja à grande actriz italiana.
Um abraço ao Fernando
Nunes, que um dia teve o sonho de reunir as três mulheres no mesmo local.