quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Um encontro com Sofia Loren, Agnes Varda e Maria do Alívio

Numa das noites em Lagos, encontrei, por acaso, um postal com uma fotografia, da realizadora francesa Agnes Varda, intitulada “Sofia Loren em Portugal”, Póvoa de Varzim, 1956 (Edições 19 de Abril, 1997), que faz parte de uma reportagem que cobriu diversas regiões do país. As memórias dessa viagem estão na obra “Os filmes e as fotografias”, editada pela Cinemateca, em 1993. Em 2011, a cineasta regressou para apresentar no DocLisboa uma série de episódios sobre as suas viagens pelo mundo, onde se inclui essa passagem por Portugal, em meados do século passado.


A fotografia tem uma história que aqui se resume: Agnes Varda pediu a uma mulher poveira que fosse passear para uma rua onde houvesse muita luminosidade, sob um cartaz meio rasgado com a Sofia Loren. A composição fez dela uma referência quando se invocam fotógrafos célebres que retrataram o nosso país. A humildade dos seus pés descalços contracena com o sorriso da diva a publicitar um sabonete. Contudo, pese embora a encenação, o que me chama mais a atenção é a pose altiva e determinada da modelo fotografada: Maria do Alívio Marques Rosa. Lavadeira de profissão, faleceu em 11 de Setembro de 2010, curiosamente, no mesmo dia em que Sofia Loren veio a Portugal, pela primeira vez, para ser homenageada no Douro Film Harvest. Cinquenta e quatro anos depois, o destino voltou a cruzá-las numa estranha coincidência. Maria do Alívio teve uma vida nos antípodas do glamour cinematográfico, mas tinha uma elegância de fazer inveja à grande actriz italiana.

Um abraço ao Fernando Nunes, que um dia teve o sonho de reunir as três mulheres no mesmo local.

Lagos

Marina - Lagos I

Avenida das Descobertas - Lagos II

D. Ana I

D. Ana II

Ponta da Piedade I

Ponta da Piedade II

Ponta da Piedade III

Ponta da Piedade IV

Ponta da Piedade V

Vila do Bispo

Farol do Cabo S. Vicente

Cabo S. Vicente, o fim ou o princípio da costa ocidental portuguesa.

Sagres I

Sagres II

Tonel - Sagres III

Sagres IV

Atalaia - Sagres V

Sagres VI

A placa celebra a chegada dos portugueses ao Japão, em 1543, 
e a geminação de Vila do Bispo com Nishinoomote, a capital da ilha de Tanegashima.

Um abraço ao Paulo Chaves, pelo muito que vi e aprendi sobre o Japão.

Salema I

Junto às escadas de acesso à praia, 
há pegadas de dinossauros com 140 milhões de anos - Salema II

Salema III


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Aljezur

Odeceixe I

Odeceixe II

Odeceixe III

Arrifana I

Arrifana II

Arrifana III

Amado I

Amado II

Amado III

Odemira II

Carvalhal I

Carvalhal II

Carvalhal III

Azenhas do Mar

A caminho da Praia da Amália

Amália I

Amália II

Odemira I


Zambujeira do Mar I


Zambujeira do Mar II


Zambujeira do Mar III


Zambujeira do Mar IV


Alteirinhos I


Alteirinhos II


Alvorião I


Alvorião II

Na Costa Vicentina

Este pequeno texto introdutório não é um guia ou um roteiro. Não tem grandes conselhos, mas expõe opiniões e relata algumas experiências pessoais. O seu objectivo é contextualizar um conjunto de fotografias da costa vicentina e da cidade de Lagos. A ordem geográfica de apresentação, de Norte para Sul (Odemira, Aljezur, Vila do Bispo e Lagos), facilita a localização de quem as vê, se nelas encontrar interesse, mas não corresponde ao itinerário cronológico realizado. Como em qualquer viagem, planeia-se, tomam-se notas, faz-se um projecto que é muitas vezes alterado no terreno, por impulsos do momento ou enganos na estrada. Fui aonde se vai quase sempre, mas também aonde pouco se vai.

Ao viajar pelo meu país, viajo por dentro de mim mesmo, pela cultura que me formou e pela memória de juventude. No promontório de Sagres ninguém olha o mar sem pensar na nossa História e no muito que se escreveu sobre esse chamamento marítimo, essa intimidação para ir mais além. Em Vila Nova de Milfontes não pude deixar de sentir uma certa tristeza quando reparei que o Restaurante-Café Miramar estava encerrado e a sua esplanada transformada em parque automóvel (Largo Brito Pais, marginal Norte do rio Mira). Esta era uma das melhores recordações dos meus primeiros contactos com a costa vicentina há quase vinte e cinco anos.

Entre aquele que vê e aquilo que é visto, dá-se um encontro nem sempre pacífico e aberto a subjectividades. Porto Covo, Milfontes e a Zambujeira do Mar estão um pouco “algarvenizados”. Não há delírios arquitectónicos nem o crescimento foi feito à bruta, reconheça-se, mas o processo é irreversível. Os festivais de Verão, a pressão imobiliária e a promoção da costa vicentina como alternativa ao esgotamento algarvio tiveram efeitos sobre o planeamento urbanístico e o comércio. Há mais construção, os restaurantes ficam lotados antes de anoitecer, o estacionamento varia entre o difícil e o caótico. Com raras excepções, o artesanato está banalizado e sofre a concorrência das lojas chinesas e das parafernálias budistas. O equilíbrio que havia entre forasteiros e locais há mais de duas décadas rompeu-se nos dias de hoje. O progresso trouxe os excessos da época estival iguais a outras terras de praia e levou o encanto de outrora para todo o sempre.

Fora do perímetro urbano costeiro, há dezenas de quilómetros que pouco ou nada foram tocados pelo homem, com dunas, praias selvagens, falésias e estratos geológicos dispostos nas posições mais surpreendentes, dobrados ou quebrados pelas forças tectónicas, entregues ao marulhar das ondas e ao permanente sopro da brisa atlântica. Entre diversas praias admiráveis, há uma inesquecível: a Praia da Amália, no Brejão, concelho de Odemira, assim chamada por se encontrar defronte da casa de férias da fadista. O acesso faz-se por um caminho escuro e húmido, pelo meio de canaviais e árvores, a lembrar alguns trilhos pedestres açorianos. No fim, desemboca-se numa enseada, por onde se desce até à praia. Lá em baixo, há uma pequena cascata e um extenso areal protegido do vento pela muralha de penhascos disposta em U. Apesar de já não ser nenhum segredo, a praia está praticamente deserta. Numa manhã de Agosto ainda é possível encontrar o paraíso na costa portuguesa.