sábado, 9 de novembro de 2024

Porto Santo

 

Vila Baleira e costa sul de Porto Santo a partir do Miradouro da Portela.


Praia dos Frades.


Fenda Dona Beija, Praia dos Frades.


Vulcanologia - Formações prismáticas/colunas de basalto no Pico de Ana Ferreira.


Ilhéu da Cal a partir do Miradouro das Flores.


Praia do Zimbralinho.


Ilhéu da Cal a partir da Calheta.


Caminhada matinal na vereda do Pico Branco e Terra Chã.





Praia das Salemas.


Praia de Porto Santo.


Mercado Velho – o antigo mercado de peixe transformado num restaurante transcendente.


Refeições portosantenses:

 Lapas grelhadas.

Bolo do caco (com manteiga e alho).

Peixe-espada à madeirense (com banana e maracujá).

"Lambeca" (sorvete local).

Acompanhamento líquido: sidra e cerveja Coral.

Museu do Porto Santo - Casa Colombo - instalado no local onde o navegador terá vivido com Filipa Perestrelo, filha do primeiro capitão donatário da ilha, Bartolomeu Perestrelo. Não há documentação que sustente que Colombo viveu em Porto Santo, mas o mito é maior do que a verdade.

Um possível retrato de Cristóvão Colombo, pintura italo-flamenga, séc. XVII.

Dragoeiro no pátio do museu.

 

O filme A Canção da Terra, dirigido por Jorge Brum do Canto (1938), apresenta uma narrativa enraizada na realidade de Porto Santo, marcada pela dureza da vida rural e pela dependência da agricultura numa terra árida e isolada. À semelhança de outros docudramas etnográficos realizados em localidades com um forte cariz identitário, como Ala-Arriba (Póvoa de Varzim) ou Maria do Mar (Nazaré), o filme explora a resistência, a luta pela sobrevivência e a ligação do homem com o ambiente. A escolha de um elenco em grande parte composto por atores não profissionais residentes na ilha reforça a autenticidade e a aproximação ao realismo. O desenvolvimento das comunicações e do turismo alteraram o contexto e o modo de vida da comunidade portosantense, mas A Canção da Terra continua a despertar interesse na população local. Além da beleza das paisagens, o filme captura o espírito de um tempo que não está muito distante e constitui um importante registro cultural e histórico para memória futura.

Núcleo museológico dedicado à vida e obra do cineasta Jorge Brum do Canto (1910-1994).


Biblioteca Municipal de Porto Santo. Catálogo de fotografias de Porto Santo captadas pelo Padre Eduardo C. N. Pereira (1887-1976). A coleção retrata os modos de vida e as tradições, desde os finais da década de 30 até meados dos anos 70, período anterior à autonomia e às mudanças estruturais que quebraram o isolamento e acompanharam o desenvolvimento económico centrado no turismo.

Moinhos da Portela. Além do registo etnográfico, as fotografias do Padre Eduardo Pereira mostram sensibilidade estética.

Moinhos da Portela recém restaurados.

A minha fotografia favorita: um funchalense a desembarcar em Porto Santo (1973).

Antigo estabelecimento comercial Honório Albino da Silva...

Atual Apollo 13, no centro da Vila Baleira.


Talvez não haja molhe tão impactante na paisagem marítima portuguesa. Avenida Infante D. Henrique, Vila Baleira.







Verão perfeito: um grelhador e uns mergulhos.


Entardecer em Vila Baleira.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Longyearbyen III

 Mas, afinal, onde estão os ursos?

No Taubanesentralen, o principal resquício do passado mineiro. A maioria das minas nas proximidades de Longyearbyen situa-se no alto de encostas íngremes e instáveis, onde era impossível construir estradas. Isso exigiu a necessidade de teleféricos para transportar o carvão para o cais de embarque (no verão) ou para um depósito de armazenamento (no inverno). Esta estrutura pesada e feia, apoiada em finas pernas, que parece um monstro de um filme de ficção científica, era a central que geria uma rede de cavaletes que se estendia em várias direções até à entrada das minas.


Taubanesentralen. Exposição “Layers of Time – Everyday Life in Svalbard”. Nordnorsk Kunstmuseum/ Galeria Nordover.


Ao longo do dia, camiões levam carvão da mina n.º 7 para a central elétrica.


A Arca da Humanidade. Nos arredores de Longyearbyen, localiza-se o Cofre Mundial de Sementes, construído pela Noruega e pela ONU, em 2008. Em caso de catástrofe, guerra ou alterações climáticas há um seguro alimentar da humanidade, com as culturas mais significativas da Terra, guardado numa estrutura subterrânea a –18.ºC. Num local remoto sem árvores nem terra arável preserva-se a biodiversidade terrestre e 12 mil anos de História Agrícola. Não se pode entrar, mas é possível fazer uma visita virtual aqui: https://seedvaultvirtualtour.com/ No inverno, os cabos azul turquesa de fibra ótica que iluminam o edifício fazem lembrar uma boate para ursos. Fonte da fotografia: Wikipédia.


O pouco que cresce é frágil e tem vida breve. Erva algodão do ártico, Eriophoum scheuchzeri.


Sinais. O Ártico está sob ameaça climática. Numa perspetiva pessimista, há cientistas que preveem, até ao final do século, verões sem gelo. Segundo o Instituto Polar Norueguês, desde 1975, a temperatura média em Longyearbyen aumentou bastante (foto). Uma vez que o solo tem vindo a derreter com maior profundidade, há receio que as estacas de madeira que sustentam as casas apodreçam e quebrem. Por isso, as novas construções estão assentes em pilares de cimento e aço. O aumento das avalanches obrigou a reorganizar o crescimento da cidade e levou à colocação de barreiras nas encostas, para evitar a repetição de acidentes. 


Casas sobre estacas, para evitar que o aquecimento derreta o solo e provoque instabilidade nas habitações.




Barreiras contra avalanches, casas coloridas e um bando de gansos com pressa.

Caminhadas nas proximidades. Subida penosa até ao telhado de Longyearbyen, o Platefjellet, a Montanha do Planalto (foto). Para evitar contratar um guia ou estar inserido num grupo, segui, à distância, um casal que estava armado (um parêntesis para relembrar que a vida no Ártico é dura e cara; por isso, há que encontrar soluções de sobrevivência e poupança). A rota começa nas traseiras do Taubanesentralen e serpenteia pela encosta acima. No topo, há uma vista panorâmica sobre a cidade. Pelo lado do Sukkertoppen, o Pico de Açúcar, o percurso também é exigente, para alargar os horizontes do Fiorde do Advento. Ambas completam-se e justificam o esforço físico.


Marco Varden.


Vista panorâmica sobre Longyearbyen.


O casal que foi seguido. Homem equipado com pistola de sinalização e espingarda.


Na encosta do Sukkertoppen, com vista sobre o Fiorde do Advento I - III.






Na Galeria Nordover. “Layers of Time – Everyday Life in Svalbard” exibe momentos de vida captados por Herta Grøndal Lampert e Leif Archie Grøndal, entre 1950 e 1990, desde o quotidiano em Longyearbyen até aos encontros entre as comunidades norueguesa e soviética durante a Guerra Fria. A exposição apresenta ainda fotografias tiradas pela filha Eva Grøndal (foto: esquerda, segunda pessoa) e música da neta/filha das fotógrafas Aggie Grøndal Peterson baseada em sons gravados do arquipélago, como espaços públicos, estruturas mineiras ou animais selvagens. Os temas são a mineração, os prazeres e as refotografias. Três gerações ligadas a Svalbard convidam os visitantes a observar as mudanças na sociedade e na natureza nas últimas décadas.


Algumas das mais de 13 mil fotografias do casal Grøndal.


Jovem mãe. Herta Grøndal Lampert.


Tempestade. Herta Grøndal Lampert.

Refotografias. Crianças: Herta Grøndal Lampert (preto e branco, 1955) e Eva Grøndal (cor, 2018).


Prazeres. Casamento, 1968. Herta Grøndal Lampert.


Prazeres. Homem em cima de um bloco de gelo, com o navio Aasenfjord, 1950. Leif Archie Grøndal.


Mineração. Mineiros consolidam o teto, anos 60. Herta Grøndal Lampert.


Mineração. Uma raposa do ártico sentada numa caixa, 1951. Leif Archie Grøndal.


A Galeria Nordover é dinâmica e diversificada. Tem um café, uma loja de artesanato, um cinema e uma exposição permanente dedicada à obra do pintor norueguês Kåre Tveter (1922-2012, foto). A paisagem dramática, as intensas mudanças de luz e a vulnerabilidade da natureza foram as suas fontes de inspiração. 


Tons suaves e abordagem minimalista para capturar o ambiente natural de Svalbard.


De olhos bem abertos. O Tratado de Svalbard estipula que o território não pode ser usado para fins militares, mas não há inocentes no fim do Mundo. No passado e no presente, houve e há pessoas que observam discretamente as movimentações na vizinhança. Da Guerra Fria à atualidade, o arquipélago mantém intacta a sua relevância geoestratégica: o Ocidente vigia a entrada e saída de navios e submarinos de Murmansk; a Rússia está atenta a um país da NATO, com os pés em sua casa. No futuro, com a abertura das rotas do Ártico ao comércio internacional, a importância de Svalbard será maior do que nunca. Fonte do mapa: Enciclopédia Britânica.


Northern Exposure. Até ao final do século passado, a população de Svalbard caraterizava-se pela longa permanência. Na atualidade, há uma grande mobilidade, devido às migrações internas e externas. As pessoas vivem, em média, 6-7 anos no território e 25% dos habitantes muda todos os anos. Na primeira noite, conheci alguns membros desta comunidade mutável que estavam a celebrar o último fim de semana de férias: uma educadora de infância de Bergen e um professor de norueguês de Bodø. O convite para beber uma cerveja foi o pretexto para uma conversa sobre o quotidiano de Longyearbyen e as motivações da mudança. Vieram em busca de novas experiências, do silêncio e da imensidão que a geografia e a natureza oferecem. Encontraram trabalho em Svalbard, mas também um lugar isolado e transitório para reorganizarem as suas vidas. Longe de casa, agrupam-se e formam uma espécie de segunda família, em que toda a gente se conhece e entreajuda, como se fosse uma aldeia. Nunca pensei despedir-me destes “amigos circunstanciais à beira-fiorde” com abraços. O gelo nórdico já não é o que era… ou será o efeito de uma “síndrome Svalbard”? Não sei… fica o registo comportamental. Por fim, a resposta para o mistério dos tailandeses em Longyearbyen: muitos mineiros passam férias na Ásia, apaixonaram-se pelas senhoras locais e trazem-nas para cá. Professores, cientistas, funcionários, guias, artistas, espiões, expatriados e antissociais, eis o retrato social da cidade mais ao norte do planeta.


Despedidas de Longyearbyen.


Voo Oslo – Lisboa. 
Regresso a casa, após cinco dias sem conhecer a noite e sem ter visto um urso.