segunda-feira, 10 de março de 2025

Nowa Huta

 

Olhar de pássaro sobre Nowa Huta, na parte oriental de Cracóvia. A construção da “Nova Siderurgia” iniciou-se nos anos 50 e destinava-se a acolher 100 mil habitantes. O arquiteto Tadeusz Ptaszycki e sua equipa projetaram tudo, desde o traçado urbano até às escadas interiores dos edifícios, com os objetivos de criar espaços de relacionamento amigável ​​e trazer felicidade aos trabalhadores. Décadas mais tarde, a cidade ideológica tornou-se problemática. Nos anos 80, foi palco de contestação ao regime pelo Sindicato Solidariedade. Nos anos 90, foi associada ao crime e à depressão económica. Hoje, recuperou dinamismo com a valorização e proteção do património arquitetónico e a abertura de lojas, cafés e serviços.

Fonte da fotografia: https://en.wikipedia.org/wiki/Nowa_Huta


Plac Centralny (Praça Central).


Arcadas na Praça Central (renomeada Ronald Regan).


Uma vendedora de Obwarzanek, um pão em forma de rosca coberto de sal ou sementes de papoila.


Aleja Solidarność (Avenida Solidariedade). Mais de 2 km em linha reta e larga, desde a Praça Central até à sede da Siderurgia Tadeusz Sendzimir (ex-Vladimir Lenin).


Entre a Praça Central e o Park Ratuszowy (Parque da Câmara), a Aleja Róż (Avenida das Rosas). Ao centro, havia uma estátua gigante de Vladimir Lenin. Entre 1973 e 1989, resistiu a manifestações populares, a atentados à bomba e a atos de vandalismo. Em 1992, foi comprada por um empresário sueco e exilou-se no Museu de Curiosidades de Värnamo, nos arredores de Estocolmo.


Colocação da estátua de Lenin na Avenida das Rosas, 1973.



Passeio matinal na Avenida das Rosas.


Bar Mleczny, uma sobrevivente leitaria comunista. Destacam-se os lustres, o estilo cantina e as fotos dos anos 60/70 de Nowa Huta.


Antigo Cinema Światowid, atualmente Museu Nowa Huta. Interior em renovação. Apenas está aberta a parte subterrânea, com a exposição "Terror Nuclear: abrigos em Nowa Huta". 


Entrada do abrigo nuclear.


O percurso é uma viagem ao tempo da Guerra Fria. Perante a ameaça nuclear, a cidade e a população estavam em alerta. Havia 250 abrigos subterrâneos e cada cidadão sabia o que tinha de fazer numa emergência. 


Uma máscara, misto de proteção e terror.


Exercícios de proteção civil.

Após a 2.ª Guerra Mundial, a Guerra da Coreia (1950-53) foi o primeiro conflito por procuração entre as duas superpotências. Este acontecimento teve impacto na construção civil e na vida quotidiana. Em contexto de Guerra Fria, acentuou a necessidade de construir abrigos e de treinar as populações.


O cogumelo nuclear ladeado por cartazes de propaganda. As autoridades sabiam que era difícil sobreviver a um ataque, mas os equipamentos e os exercícios de proteção eram necessários para transmitir tranquilidade e confiança à população.


A entrada para o abrigo do hospital.


O velho e o novo quiosque na antiga Avenida Revolução Cubana (renomeada João Paulo II).


No interior de um pátio do Centrum A9. As portas dão acesso às habitações e aos abrigos. 


De regresso à Avenida Solidariedade. Ao fundo, à direita, uma alteração importante no padrão arquitetónico…



O Bloco Sueco (1957-59) foi uma introdução modernista possibilitada pelo desanuviamento político pós Estaline. Alguns arquitetos estudaram na Suécia novos designs urbanos. Inspirados nas propostas de Le Corbusier, sobressaem varandas e largas sequências de janelas com vista para uma área verde. 


Pormenor de uma fachada do Bloco Sueco.


Na esquina entre Orkana e Solidarność, uma torre de observação no topo de um edifício, para reconhecer ameaças e alertar a população.


Complexo Escolar de Educação Mecânica n.º 3. A fachada segue a estética realista, com imponentes linhas neoclássicas. No interior, localiza-se um ramo subterrâneo do Museu Nowa Huta.


Entrada do museu. A exposição “Estado de Emergência” faz uma diagonal sobre outros abrigos nucleares no mundo e termina com uma instalação contemporânea, em que são colocadas diversas questões existenciais perante o confinamento.


Na longa Solidariedade.


No interior do Stylowa, um restaurante a espalhar estilo desde 1956. À mesa, design retro e flores de plástico. Na sala principal, dois comensais em processo de autogestão. Numa outra ala, um homem tranquilo com um cão maldisposto. No ar, uma sonoridade country em língua polaca e bedum a fritos em doses nucleares. O charme atmosférico reside em não dar concessões à modernidade. Portanto, o local ideal para almoçar e concluir a caminhada por Nowa Huta.


Nas paredes, há fotografias a preto e branco que guardam a memória da inacabada utopia. Trabalhadores a caminho da siderurgia.


Lenin em modo bonsai, para peregrinação de nostálgicos e curiosos.


Lenin no coração do Stylowa.


A minha refeição: crepes de espinafres com iogurte natural, acompanhados por uma cerveja Zywiec. Serviço indiferente, mas eficaz. Comunicação reduzida ao mínimo. Um Uber antes do tempo. As únicas palavras que a empregada trocou comigo foram ditas no final, depois de ter aguardado que ela acabasse de fumar um cigarro no exterior: “Card or cash?” Ah… afinal, sempre houve uma fissura da modernidade com a introdução do pagamento eletrónico. Preferi “cash”, para manter-me fiel ao espírito do lugar.



Mais do que uma vitrine, uma fronteira temporal. Não é fácil gostar do Stylowa, mas seria trágico se o lugar fosse remodelado ou fechado.

Auschwitz-Birkenau

 



































 




























O mal de ontem não apaga o mal de hoje. Em contextos e escalas diferentes, o comportamento do governo de Israel (2025) envergonha a memória de todos que estiveram aqui.