sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Breve nota de uma viagem a Rodes

 

Mapa de Rodes, a ilha mais oriental da Grécia.

Para quem chega pelo mar, o porto Mandraki é uma possível porta de entrada.

     Durante a viagem costeira para Ladiko, vi a maior praia da ilha acompanhada de um sem fim de hotéis, restaurantes, bares e lojas. Faliraki é um destino popular que acolhe grupos de veraneantes, sobretudo do norte da Europa. Mesmo que aparentemente controlada, a massificação torna os lugares incaraterísticos. Se retirássemos a publicidade e as informações em grego, Faliraki seria igual a outra vila balnear do Mediterrâneo. Como outras ilhas, Rodes está associada a belas praias e a uma frenética vida noturna, com o objetivo de satisfazer os turistas que buscam apenas sol e ócio. Mas Rodes está muito longe de ser um destino sem substância e anódino. A estátua gigante de Hélios, o legado dos Cavaleiros Hospitalários de S. João de Jerusalém, a longa presença otomana, a ocupação italiana ou o extermínio da comunidade judaica marcaram a identidade de uma ilha, que se insere na confluência entre a Europa e o Médio Oriente, onde se misturam influências culturais e rivalidades históricas que chegaram até aos nossos dias. As fotos que se seguem retratam um olhar sobre o passado e o presente: vestígios de povos que chegaram e partiram, abandonos e reconstruções, recantos tranquilos e excessos estivais.

Casa onde viveu Lawrence Durrell (20.05.1945 - 10.04.1947)...

...vizinha do cemitério turco e da Mesquita Murad Reis.

     Tive um guia prestigiado: Lawrence Durrell. O escritor viveu dois anos em Rodes, durante a ocupação inglesa pós 2.ª Guerra Mundial, e deixou-nos duas obras que, malgrado a passagem do tempo, permanecem atuais em muitos aspetos. Nas páginas de “Reflexões sobre uma Vênus Marinha” e “Ilhas Gregas” estão algumas coordenadas para orientação do leitor, desde pistas de compreensão até exercícios prazerosos: o apreço pelo trabalho de resgate do passado e de desenvolvimento económico realizado pelos italianos, a história do Colosso de Rodes e as discussões relativas à sua localização, a beleza de Lindos e as vistas extraordinárias da acrópole, o gozo inesgotável de caminhar nas muralhas e vielas medievais, o fino verniz cristão ortodoxo que assenta na antiguidade, em que Deuses e Santos convivem com demónios, feiticeiros e curandeiros, entre outras. Durrell escreveu que Corfu e Chipre eram mais bonitas, mas Rodes tinha sido a ilha onde foi mais feliz. Não tive a experiência de dormitar com o silêncio e a serenidade num cemitério turco abandonado, mas partilho com ele que não há mar azul como aquele nem vista como a do Monte Smith ao entardecer.

Encontro entre os mares Egeu (azul escuro) e Mediterrâneo (azul claro), 
no extremo nordeste de Rodes.

Vista sobre Rodes a partir do Monte Smith.