História de uma falhada ida à Albânia e como o Rei Zog salvou o meu dia.
As expetativas criadas em torno de Ohrid, a
grande atração da Macedónia, não saíram defraudadas. Trata-se de um lago partilhado
com a Albânia, inserido numa região montanhosa, com vários motivos de interesse
ambiental e histórico, belíssimas paisagens e uma cidade classificada
Património da Humanidade pela Unesco. Parti com tudo isso em mente e um desejo
suplementar. Quando soube que a organização tinha planeado um almoço e uma
visita ao Mosteiro de S. Naum, situado a pouco mais de um quilómetro da
fronteira, pensei, de imediato, numa incursão relâmpago ao antigo paraíso dos
trabalhadores. Será que era possível tomar um café ou beber uma cerveja do lado
de lá? Quem viveu os anos da “Guerra Fria” sabe que a Albânia do Enver Hoxha era
o mais fechado dos países europeus, do qual ninguém saía e poucos entravam.
Passado esse tempo e estando ali tão perto, não podia perder a oportunidade de
concretizar uma bizarra fantasia de juventude: por os pés no país das águias!
Quando abordei a ideia à responsável pela
visita de estudo, esta mostrou-se muito reticente em acomodar “este pequeno
desvio”. Elencou questões logísticas, burocráticas e falta de tempo, para
inviabilizar uma simbólica passagem de fronteira, mesmo que realizada a título
particular. Embora nunca o afirmasse claramente, notava-se que não morria de
amores pelos seus vizinhos. Dentro da Macedónia, um quarto da população é
albanesa e a convivência nem sempre é pacífica. Em 2001, houve confrontos
armados no noroeste do país e, em 2012, novos episódios de violência. Com tempo
apertado e sem flexibilidade da organização, percebi rapidamente que tinha de
deixar cair a ideia e seguir caminho. O paraíso de antanho teria de esperar por
um novo périplo balcânico no futuro. Para cúmulo, ainda tive de engolir uma simpática
provocação da guia, quando, ao abandonarmos o local, virou-se para mim e disse,
ao apontar para um homem barrigudo em tronco nu: “Paulo, aquele era o único
taxista capaz de te levar à Albânia, mas, agora, já não temos tempo!” Teve
piada a madame até então hirta em assuntos albaneses…
No fim da jornada, no retiro do quarto, ao
ler sobre as visitas efetuadas, descobri que, afinal, “tinha estado” na
Albânia. A área onde fica o Mosteiro de S. Naum pertenceu ao país, entre 1912 e
1925, quando o Presidente Ahmet Zog (Rei Zog I, a partir de 1928) cedeu o
território à Jugoslávia, como gesto de boa vontade. As voláteis fronteiras
balcânicas nunca param de surpreender.