quinta-feira, 16 de junho de 2022

Ohrid

História de uma falhada ida à Albânia e como o Rei Zog salvou o meu dia.

As expetativas criadas em torno de Ohrid, a grande atração da Macedónia, não saíram defraudadas. Trata-se de um lago partilhado com a Albânia, inserido numa região montanhosa, com vários motivos de interesse ambiental e histórico, belíssimas paisagens e uma cidade classificada Património da Humanidade pela Unesco. Parti com tudo isso em mente e um desejo suplementar. Quando soube que a organização tinha planeado um almoço e uma visita ao Mosteiro de S. Naum, situado a pouco mais de um quilómetro da fronteira, pensei, de imediato, numa incursão relâmpago ao antigo paraíso dos trabalhadores. Será que era possível tomar um café ou beber uma cerveja do lado de lá? Quem viveu os anos da “Guerra Fria” sabe que a Albânia do Enver Hoxha era o mais fechado dos países europeus, do qual ninguém saía e poucos entravam. Passado esse tempo e estando ali tão perto, não podia perder a oportunidade de concretizar uma bizarra fantasia de juventude: por os pés no país das águias!

Quando abordei a ideia à responsável pela visita de estudo, esta mostrou-se muito reticente em acomodar “este pequeno desvio”. Elencou questões logísticas, burocráticas e falta de tempo, para inviabilizar uma simbólica passagem de fronteira, mesmo que realizada a título particular. Embora nunca o afirmasse claramente, notava-se que não morria de amores pelos seus vizinhos. Dentro da Macedónia, um quarto da população é albanesa e a convivência nem sempre é pacífica. Em 2001, houve confrontos armados no noroeste do país e, em 2012, novos episódios de violência. Com tempo apertado e sem flexibilidade da organização, percebi rapidamente que tinha de deixar cair a ideia e seguir caminho. O paraíso de antanho teria de esperar por um novo périplo balcânico no futuro. Para cúmulo, ainda tive de engolir uma simpática provocação da guia, quando, ao abandonarmos o local, virou-se para mim e disse, ao apontar para um homem barrigudo em tronco nu: “Paulo, aquele era o único taxista capaz de te levar à Albânia, mas, agora, já não temos tempo!” Teve piada a madame até então hirta em assuntos albaneses…

No fim da jornada, no retiro do quarto, ao ler sobre as visitas efetuadas, descobri que, afinal, “tinha estado” na Albânia. A área onde fica o Mosteiro de S. Naum pertenceu ao país, entre 1912 e 1925, quando o Presidente Ahmet Zog (Rei Zog I, a partir de 1928) cedeu o território à Jugoslávia, como gesto de boa vontade. As voláteis fronteiras balcânicas nunca param de surpreender.

Rei Zog I da Albânia (1895-1961).
Fonte: pt.wikipedia.org. Foto tirada entre 1928 e 1930.

Aldeamento neolítico na Baía dos Ossos, Lago Ohrid.
Ao fundo, a Albânia.

Entrada no Museu da Água, Baía dos Ossos, Lago Ohrid.

Almoço flutuante em S. Naum.

Quarteto pantomineiro.

Mosteiro de S. Naum, século X, 
um dos centros de desenvolvimento do alfabeto cirílico.

Frescos no interior do mosteiro. São Naum está aqui sepultado. Os peregrinos acreditam que ouvem os seus batimentos cardíacos encostando os ouvidos ao caixão. Não experimentei.

Cúpula do mosteiro.

Vista do Lago Ohrid, a partir do largo do mosteiro.

Nos acessos pedonais ao mosteiro.

No centro histórico da cidade de Ohrid.

Museu do Papel, Ohrid.

Velho casario e igrejas de Ohrid, Museu do Papel.

Mosteiro de Sta. Sofia, Ohrid.

Interior de uma casa em Ohrid.

Mulher de vermelho, Ohrid.

Lago Ohrid nas margens de Ohrid.