Entardecer sobre
Sarajevo a partir da Žuta Tabija (Fortaleza Amarela). Na encosta, encontra-se
um dos vários cemitérios com vítimas da guerra civil bósnia (1992-95).
Rua Ferhadija,
centro de Sarajevo. Antes da guerra, a composição étnica da cidade era a
seguinte: 49% muçulmanos bósnios, 28% sérvios ortodoxos, 10% jugoslavos, 8%
croatas católicos e 4 % outros. Havia 30% de casamentos mistos. A cidade
multicultural não resistiu ao cerco de 3 anos e 10 meses e aos 11.541 mortos. Na
atualidade, Sarajevo é um ponto de encontro inclinado entre o Ocidente e o
Oriente: 80% da população é muçulmana.
A historiadora
Amra Abadžić, em “Sarajevo The Longest Siege”, refere que, nas vésperas do
início da guerra, ninguém acreditava que tal pudesse acontecer. Quando alguém
escreveu no posto dos correios “This is Serbia”, a resposta apareceu de
imediato: “You fool, this is a post office”. O edifício foi um dos primeiros a
ser atingido pelos bombardeamentos.
Última concentração
pacífica, 5 de abril 1992 (foto Ron Haviv, Galerija 11/07/95). Um manifestante
segura um cartaz de Tito, que defendia a irmandade entre os povos jugoslavos. A
guerra começou nesse dia.
Sala principal da
Galerija 11/07/95, um espaço memorial-artístico sobre o massacre de
Srebrenica (8.372 mortos). Em Sarajevo, existem vários museus e galerias
dedicados à guerra civil, sob diversas perspetivas, sendo este centrado,
sobretudo, no trabalho dos fotojornalistas. Algumas das mais conhecidas imagens
do conflito, que foram divulgadas nos órgãos de comunicação internacionais,
estão expostas nesta galeria. Cada fotografia conta uma história ligada à
tragédia, ao quotidiano e à sobrevivência (im)possível.
Um pai enterra a
sua filha de dois anos (foto Jon Jones).
Uma família joga
xadrez no interior do apartamento durante o cerco de Sarajevo (foto Paul Lowe).
Campo para
sobreviventes de Srebrenica, em Mihatoviçi, Tuzla (foto Johansen Krause). Como
se sobrevive quando nos é tirado tudo, a terra onde nascemos, a casa onde
vivemos, os familiares com quem criamos vínculos de uma vida? O voo dos
pássaros negros assinala o pesadelo da sobrevivência sobre o campo.
Entrada do Museu
Túnel da Guerra, junto ao aeroporto. O túnel de 800 metros (340 metros debaixo
da pista) ligava a cidade (isolada pelas forças sérvias) ao território
controlado pelas forças bósnias. Foi usado para transportar alimentos,
combustível, armas e pessoas. Escavado à mão, com picaretas e pás, entre 1 de
março e 30 de junho de 1993.
Mapa com o
posicionamento das forças sérvias que cercaram Sarajevo durante
1.425 dias (05.04.1992-29.02.1996), o mais longo da História Contemporânea. O
cerco durou mais dois meses e meio do que o fim da guerra civil da Bósnia
(Acordo de Dayton, 14.12.1995).
Segmento de 20 metros
aberto ao público.
As redes de
segurança da pista do aeroporto servem de expositores para fotografias que
retratam a construção e a operacionalização do túnel.
Na rede, uma imagem icónica. No bairro de Dobrinja, Meliha Varešanović caminha orgulhosamente
para o trabalho sem receio dos atiradores sérvios (foto Tom Stoddart).
O ex-Museu da
Revolução / atual Museu de História da Bósnia Herzegovina fazia parte da rede
nacional jugoslava de “museus revolucionários” que glorificavam o nascimento de
uma nova sociedade.

A exposição
original era dedicada à 2.ª Guerra Mundial, à Luta de Libertação Popular e à
Revolução Socialista na Jugoslávia. Embora as temáticas anteriores continuem e
ser exibidas, na atualidade, os focos principais são a guerra civil e o cerco
de Sarajevo.
"Morte ao
Fascismo, Liberdade ao Povo", vitral retangular, 1966, Vojo Dimitrijević.
Danificado durante a guerra.
Tito, 1948, Antun
Augustinčić. A mais célebre estátua do Presidente Jugoslavo.
Cerco de
Sarajevo: destruição/reconstrução.
Muitas escolas
foram atingidas pelos bombardeamentos causando a morte a professores, alunos e
funcionários. Nas fachadas das escolas há memoriais que recordam aqueles que
perderam a vida.
“Miss Sarajevo 1993” (foto Paul Lowe).
A guerra tinha
terminado, mas continuava a fazer vítimas. Durante uma caminhada, Selma (na legenda da imagem não há referência ao apelido) pisou
uma mina e teve de amputar a perna esquerda. Calcula-se que a Bósnia-Herzegovina
tenha 3 milhões de minas. Desde o final de guerra, houve 1.780 acidentes (foto
Birgit Ludwig).
Nas costas do
Museu de História da Bósnia e Herzegovina, o Café Tito, para nostálgicos da
Jugoslávia.
Decoração
vintage, com objetos de época. No interior, há um busto e uma fotobiografia do
presidente.
O culto da
personalidade levado ao detalhe.
Avenida Marechal
Tito engalanada para receber o Presidente numa visita a Sarajevo. Exterior,
Café Tito.
Avenida Marechal
Tito na atualidade. Ao fundo, por cima da “Chama Eterna”, que presta homenagem
aos bósnios falecidos na 2.ª Guerra Mundial, há uma lona que relembra os 30
anos do massacre de Srebrenica.
Raridade em
Sarajevo: um Yugo, o orgulho da indústria automóvel jugoslava.
À saída da
Estação de Comboios, um placard sobre a organização dos Jogos Olímpicos de
Inverno de 1984. Numa década em que os Jogos Olímpicos de Verão foram
boicotados por razões políticas (Moscovo, 1980; Los Angeles, 1984), Sarajevo
acolheu os jogos sem recusas ou incidentes. Foi um sucesso desportivo e
político para a Jugoslávia. Na década seguinte, a guerra levou à destruição ou
abandono de instalações desportivas e hotéis nas montanhas. Na cidade, as
infraestruturas foram recuperadas e continuam em uso.
Estádio Olímpico Koševo. Durante a guerra, o relvado foi transformado num cemitério.
Interior do pavilhão Skenderija onde foram disputados alguns jogos de hóquei em gelo. Atualmente, o espaço está preparado para acolher o Festival de Cinema de Sarajevo.
Uma habitante da
aldeia olímpica Mojmilo sai à rua de acordo com a cor predominante do bairro. A
zona era uma das linhas de frente durante o cerco de Sarajevo. A aldeia foi
reconstruída com o apoio do município de Barcelona.
Pavilhão de
aquecimento para os atletas olímpicos. Durante a guerra, foi pintado um aviso no
símbolo olímpico: “Snajper Pozor” (“Cuidado com o atirador”).
Ver fotografia de Tom Stoddart, arquivo gettyimages, aqui:
Montanha Olímpica
Igman, pista de saltos de esqui. Devido à proximidade das linhas de
abastecimento de Sarajevo, a área foi bastante bombardeada. O complexo olímpico
encontra-se abandonado.
O pódio da pista
de esqui foi usado como local de execução.
Montanha Olímpica
Trebević. Sarajevo era bombardeada diariamente pela artilharia sérvia a partir
daqui.
Tal como outros
equipamentos nas montanhas em redor de Sarajevo, a pista de 1.300 metros de
bobsleigh está abandonada, entregue aos artistas de rua e à natureza.
A rua Logavina é
uma síntese biográfica de Sarajevo. Durante quatro séculos, foi uma área
residencial tranquila numa cidade conhecida pela tolerância religiosa e étnica.
A guerra na Bósnia alterou tudo. “Logavina Street: Life and Death in a Sarajevo
Neighborhood”, de Barbara Demick, descreve como os moradores sobreviveram
durante o cerco e como a guerra alterou o relacionamento entre vizinhos. No
final, há um capítulo em que a autora relata o seu regresso a Sarajevo, para
constatar o fim de um tempo, a permanência de tensões e a ausência de
reconciliação. Nada mudou em 2025…
No cimo da rua,
há um cemitério muçulmano, com vítimas da guerra.
A Câmara
Municipal de Sarajevo foi projetada em 1891, durante o período Austro-Húngaro.
Há uma célebre fotografia do Arquiduque Francisco Fernando a sair do edifício, poucos
minutos antes de ser assassinado.
Durante o cerco,
o edifício serviu de Biblioteca Nacional. Em 1992, foi incendiado e perdeu-se
80% do espólio livreiro e documental da História da Bósnia.
De regresso às
vésperas da 1.ª Guerra Mundial... A primeira vez que o mundo ouviu falar de
Sarajevo foi em 28 de junho de 1914, quando o Arquiduque Francisco Fernando,
herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, foi assassinado, depois de ter
atravessado a Ponte Latina, na esquina do edifício rosa (atual Museu de
Sarajevo 1878-1918). No local, há uma placa que assinala o acontecimento.
Sniper Alley era
o nome informal da rua Zmaja od Bosne (Dragão da Bósnia) e do Boulevard Meša
Selimović, a principal avenida de Sarajevo. Ao fundo, o Hotel Holiday,
ex-Holiday Inn, construído para os Jogos Olímpicos de Inverno 1984. Durante o
cerco, alojou jornalistas e foi alvo constante dos atiradores.
Na avenida, há uma mescla de arquitetura pré e pós-conflito. Vários edifícios dos anos 70 e 80 mantêm as marcas da guerra nas fachadas. Colocaram-se uns tijolos para tapar as brechas dos morteiros, mas os buracos das balas permanecem.
Uma manequim
vítima de maus tratos.
Brutalismo
jugoslavo. Estação de Comboio.
Brutalismo
jugoslavo. Interior da Estação.
Brutalismo
jugoslavo. Bairro residencial Alipašino Polje.
Brutalismo jugoslavo. Bairro residencial Đuro Đaković Housing Complex, conhecido por Ciglane.
Arte de rua.
Um jogo de futebol.
Nos jardins da Trg
Oslobođenja (Praça da Libertação), uma partida de xadrez, em modo tabuleiro
gigante.
Uma família
aguarda que o marido termine a oração na Mesquita Gazi Husrev Beg, a mais
importante da cidade velha, ativa desde 1530.
Sebilj, a fonte
de madeira na Praça dos Pombos, no centro do Baščaršija, o bazar da cidade
velha.
No bazar de Sarajevo:

Um conjunto
completo de café bósnio chamado kahveni takum: inclui uma bandeja de cobre (tabla),
um bule (džezva), um pote de açúcar (šećerluk) e uma pequena xícara (fildžani),
acompanhado por um doce de massa folhada, com noz, pistácio e mel (baclava).
Kino Bosna, uma antiga
sala de cinema que sobreviveu à guerra, ao cerco e à modernidade. Na parede
principal do palco, há cartazes de filmes jugoslavos e clássicos. Na plateia,
estão o bar e a orquestra. O pessoal distribui-se por todo o lado, em animada conversa,
cantoria e dança. O ambiente está carregado de fumo e sopros metálicos. O espaço
abre apenas à 2.ª feira e a música anglo-saxónica não tem direito a entrada.
Tudo o que se ouve é cantado ao vivo num ritmo frenético que
recorda as bandas sonoras dos filmes de Kusturica (personagem de Sarajevo, mas
que é pouco amado na cidade…). Até os temas de guerra são interpretados como se
a plateia estivesse numa festa de despedida da vida, em que o trauma e o drama
são tratados com doses alucinadas de fanfarra.
Pelo meio da noite apareceu um tema que reconheci: “Ederlezi”, que faz parte da banda sonora do filme “O Tempo dos Ciganos” (Jugoslávia, 1988). Visto, pela primeira vez, num domingo de manhã, no Cineclube Octopus, em 27 de janeiro de 1991, faz parte do meu núcleo de filmes de uma vida, por ter despertado o interesse pelos Balcãs.