domingo, 8 de setembro de 2013

Subida à Montanha do Pico

Finalmente, ao quarto dia, uma melhoria ligeira do estado do tempo, do lado do canal de S. Jorge, deu-me a propulsão para arriscar. Levantei-me às seis da manhã, tomei o pequeno-almoço, peguei na mochila e meti-me à estrada. Duas boleias colocaram-me às sete e quarenta na Casa da Montanha, situada a 1.230 m. Após a assinatura de um termo de responsabilidade (por partir sem guia) e a visualização de um pequeno filme sobre normas de segurança, iniciei a subida, às oito horas. Esperavam-me um trilho de quase 5 km até à mais alta montanha de Portugal e uma dura caminhada ascendente de três horas e meia… 

Cerca de duas horas e meia de caminho, com as nuvens a cercarem a montanha. Ao fundo, a baía das Lajes do Pico.

Próximo da cratera e numa fase mais dócil do trilho, após uma longa subida íngreme. Ao fundo, a baía de Lajes do Pico.

Chegada à cratera do vulcão adormecido (última erupção em 1720). Mas, a subida ainda não terminou…

A meta: Piquinho, 70 m acima da cratera. Subida com inclinação de 45º!

Após três horas e meia de caminhada, cheguei ao tecto de Portugal – 2351 m. No Piquinho, apesar do cheiro a enxofre, não tenho o Diabo à minha espera… Ao fundo, Lajes do Pico completamente rodeada por nuvens. 
Do Piquinho para a cratera. Como as nuvens cercam o vulcão, não se conseguem ver as restantes ilhas do grupo central: Faial, Graciosa, S. Jorge e Terceira. Resta-me a satisfação de ter conseguido chegar ao fim e almoçar com esta magnífica vista aérea. Cá em cima, o mundo resume-se a três cores: branco das nuvens, negro da montanha e o azul do céu.

O regresso foi muito mais penoso… Enquanto a subida é um exercício de força e músculo, a descida é um teste permanente de atenção e criatividade para escolher o melhor percurso. Com o passar do tempo, o cansaço acumula-se, os níveis de concentração diminuem, o ritmo de andamento desce e o perigo aumenta. Muitas vezes, para evitar o risco de acidente (entorse ou fractura numa queda), preferi, na parte final, descer sentado, apoiado nas mãos, em vez de ensaiar uma descida íngreme na vertical, quando o corpo já não me dava garantias de resposta em segurança. Cheguei ao fim, numa fase em que o nevoeiro e as nuvens baixas diminuíam a visibilidade, sem “travões e amortecedores”, digo articulações e tendões. Lembro-me perfeitamente do meu caminhar idiota, quando reentrei na Casa de Montanha, pouco depois das três e meia da tarde.