Desmantelamento da baleia – Fonte: CM Lajes do Pico
(sem data). Centro de Artes e Ciências do Mar, na antiga Fábrica da Baleia
SIBIL (Sociedade Insular de Baleação Industrial Lajense).
“Nas
Lajes, saía o enterro dum baleeiro morto no mar, quando do Alto da Forca
anunciaram o bicho. Ia tudo compungido – ia a mulher compungida e os pescadores
compungidos, o padre, o sacrista, a cruz e a caldeira – iam aqueles homens
rudes e tisnados em passo de caso grave e fatos de ver a Deus – e logo a marcha
compassada parou instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude: ficou
só o padre com o latim engasgado e o caixão no meio da rua, e os outros,
enrodilhados, levaram o sacristão, de abalada, até à praia. Baleia! Baleia!…
Deixam um casamento ou um enterro em meio, um contrato ou uma penhora, as testemunhas
e a justiça, e correm desesperados a arriar a baleia. No Cais do Pico e nas
Lajes ninguém se afasta da praia. Estão sempre à espera do sinal e com o ouvido
à escuta, os homens nos campos, as mulheres nos casebres. E enquanto falam,
comem ou trabalham, lá no fundo remói sempre a mesma preocupação. São tão
apaixonados que até este cheiro horrível, que faz náuseas e que se entranha na
comida e no fato, lhes cheira sempre bem.” Raúl Brandão, As Ilhas Desconhecidas.
Conclusão:
os mortos podem esperar, mas as baleias não!
Exterior da Fábrica da Baleia SIBIL. Esteve activa
entre 1952-1982.
Actual Centro de Artes e Ciências do Mar.
Vista a partir do Forte Sta Catarina. Pico
encoberto…
Com o fim da caça à baleia, em 1987, ficou um
valioso património de saberes, ao qual está associado um não menos importante
património material, constituído por embarcações baleeiras, diversos
instrumentos ligados à actividade (arpões, lanças, cordas, ganchos…),
edifícios, maquinarias de apoio em terra, que deram corpo à baleação. O Museu
dos Baleeiros, instalado em três antigas casas dos botes do século XIX, acolhe
este espólio único em Portugal sobre o tema, explica o processo de captura do
cachalote, as técnicas de construção naval, a vida do baleeiro em terra e
apresenta um conjunto diversificado de objectos de arte em marfim e osso de
cachalote (srimchaw).
Na literatura universal, a valentia e a natural
aptidão dos marinheiros açorianos para se adaptarem à vida dura e arriscada da
caça à baleia ficou imortalizada na obra “Moby Dick”, de Herman Melville. Muitas
baleeiras norte-americanas acolhiam a bordo muitos açorianos para a faina da
pesca em todo o mundo. O benefício era de ambos: os americanos ficavam com
gente trabalhadora e destemida; os açorianos fugiam à fome e ao serviço
militar, procurando nestas campanhas ganhar algum dinheiro. Pormenor da arquitectura
do Museu dos Baleeiros, de inspiração norte-americana.
Panorama “Uma viagem baleeira à volta do mundo”,
por Benjamim e Caleb P. Purrigton, 1848. Reprodução da colecção da Sociedade
Histórica de Old Dartmouth – Museu da Pesca da Baleia de New Bedford, Massachusetts,
EUA (www.whalingmuseum.org ). Sala
dos Botes, Museu dos Baleeiros.
Canoa baleeira Sta Catarina, concluída em
28.05.1928. Custo 90$00.
Sala dos Botes, Museu dos Baleeiros.
Casario na Rua dos Baleeiros.
Vista de Lajes do Pico, a partir da Ponta de
Castelete.
Ao fundo, o Pico dava sinais que podia destapar-se…