domingo, 8 de setembro de 2013

Lajes do Pico

Desmantelamento da baleia – Fonte: CM Lajes do Pico (sem data). Centro de Artes e Ciências do Mar, na antiga Fábrica da Baleia SIBIL (Sociedade Insular de Baleação Industrial Lajense).

“Nas Lajes, saía o enterro dum baleeiro morto no mar, quando do Alto da Forca anunciaram o bicho. Ia tudo compungido – ia a mulher compungida e os pescadores compungidos, o padre, o sacrista, a cruz e a caldeira – iam aqueles homens rudes e tisnados em passo de caso grave e fatos de ver a Deus – e logo a marcha compassada parou instantaneamente e mudaram instantaneamente de atitude: ficou só o padre com o latim engasgado e o caixão no meio da rua, e os outros, enrodilhados, levaram o sacristão, de abalada, até à praia. Baleia! Baleia!… Deixam um casamento ou um enterro em meio, um contrato ou uma penhora, as testemunhas e a justiça, e correm desesperados a arriar a baleia. No Cais do Pico e nas Lajes ninguém se afasta da praia. Estão sempre à espera do sinal e com o ouvido à escuta, os homens nos campos, as mulheres nos casebres. E enquanto falam, comem ou trabalham, lá no fundo remói sempre a mesma preocupação. São tão apaixonados que até este cheiro horrível, que faz náuseas e que se entranha na comida e no fato, lhes cheira sempre bem.” Raúl Brandão, As Ilhas Desconhecidas.

Conclusão: os mortos podem esperar, mas as baleias não! 

Exterior da Fábrica da Baleia SIBIL. Esteve activa entre 1952-1982. 
Actual Centro de Artes e Ciências do Mar.

Vista a partir do Forte Sta Catarina. Pico encoberto…

Com o fim da caça à baleia, em 1987, ficou um valioso património de saberes, ao qual está associado um não menos importante património material, constituído por embarcações baleeiras, diversos instrumentos ligados à actividade (arpões, lanças, cordas, ganchos…), edifícios, maquinarias de apoio em terra, que deram corpo à baleação. O Museu dos Baleeiros, instalado em três antigas casas dos botes do século XIX, acolhe este espólio único em Portugal sobre o tema, explica o processo de captura do cachalote, as técnicas de construção naval, a vida do baleeiro em terra e apresenta um conjunto diversificado de objectos de arte em marfim e osso de cachalote (srimchaw). 

Na literatura universal, a valentia e a natural aptidão dos marinheiros açorianos para se adaptarem à vida dura e arriscada da caça à baleia ficou imortalizada na obra “Moby Dick”, de Herman Melville. Muitas baleeiras norte-americanas acolhiam a bordo muitos açorianos para a faina da pesca em todo o mundo. O benefício era de ambos: os americanos ficavam com gente trabalhadora e destemida; os açorianos fugiam à fome e ao serviço militar, procurando nestas campanhas ganhar algum dinheiro. Pormenor da arquitectura do Museu dos Baleeiros, de inspiração norte-americana.

Panorama “Uma viagem baleeira à volta do mundo”, por Benjamim e Caleb P. Purrigton, 1848. Reprodução da colecção da Sociedade Histórica de Old Dartmouth – Museu da Pesca da Baleia de New Bedford, Massachusetts, EUA (www.whalingmuseum.org ). Sala dos Botes, Museu dos Baleeiros.

Canoa baleeira Sta Catarina, concluída em 28.05.1928. Custo 90$00. 
Sala dos Botes, Museu dos Baleeiros.

Casario na Rua dos Baleeiros.

Vista de Lajes do Pico, a partir da Ponta de Castelete. 
Ao fundo, o Pico dava sinais que podia destapar-se…