Finalmente, ao quarto dia, uma melhoria ligeira do
estado do tempo, do lado do canal de S. Jorge, deu-me a propulsão para
arriscar. Levantei-me às seis da manhã, tomei o pequeno-almoço, peguei na
mochila e meti-me à estrada. Duas boleias colocaram-me às sete e quarenta na
Casa da Montanha, situada a 1.230
m . Após a assinatura de um termo de responsabilidade (por
partir sem guia) e a visualização de um pequeno filme sobre normas de
segurança, iniciei a subida, às oito horas. Esperavam-me um trilho de quase 5 km até à mais alta montanha
de Portugal e uma dura caminhada ascendente de três horas e meia…
Cerca de duas horas e meia de caminho, com as
nuvens a cercarem a montanha. Ao fundo, a baía das Lajes do Pico.
Próximo da cratera e numa fase mais dócil do
trilho, após uma longa subida íngreme. Ao fundo, a baía de Lajes do Pico.
Chegada à cratera do vulcão adormecido (última
erupção em 1720). Mas, a subida ainda não terminou…
A meta: Piquinho, 70 m acima da cratera. Subida
com inclinação de 45º!
Após três horas e meia de caminhada, cheguei ao
tecto de Portugal – 2351 m .
No Piquinho, apesar do cheiro a enxofre, não tenho o Diabo à minha espera… Ao
fundo, Lajes do Pico completamente rodeada por nuvens.
Do
Piquinho para a cratera. Como as nuvens cercam o vulcão, não se conseguem ver
as restantes ilhas do grupo central: Faial, Graciosa, S. Jorge e Terceira.
Resta-me a satisfação de ter conseguido chegar ao fim e almoçar com esta magnífica
vista aérea. Cá em cima, o mundo resume-se a três cores: branco das nuvens,
negro da montanha e o azul do céu.
O
regresso foi muito mais penoso… Enquanto a subida é um exercício de força e
músculo, a descida é um teste permanente de atenção e criatividade para
escolher o melhor percurso. Com o passar do tempo, o cansaço acumula-se, os
níveis de concentração diminuem, o ritmo de andamento desce e o perigo aumenta.
Muitas vezes, para evitar o risco de acidente (entorse ou fractura numa queda),
preferi, na parte final, descer sentado, apoiado nas mãos, em vez de ensaiar
uma descida íngreme na vertical, quando o corpo já não me dava garantias de
resposta em segurança. Cheguei ao fim, numa fase em que o nevoeiro e as nuvens
baixas diminuíam a visibilidade, sem “travões e amortecedores”, digo
articulações e tendões. Lembro-me perfeitamente do meu caminhar idiota, quando
reentrei na Casa de Montanha, pouco depois das três e meia da tarde.