Marina e Avenida Infante D. Henrique ao cair da
noite…
Quando partires de regresso a Ítaca, faz votos para que seja longo o caminho (K. Kavafis)
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Chamarrita, a música do tal canal
De
regresso à Horta, vindo da Espalamaca, assisti, no âmbito das festas da Semana
do Mar, a uma “entrada” pateta para o Guiness Book - o maior baile de
chamarrita do mundo! -, com direito a um directo da RTP Açores! A chamarrita é
uma música coreografada, de raiz popular, que é tocada, cantada e dançada nos
Açores, especialmente, no Pico e Faial. Trata-se de um baile de roda mandado,
que é acompanhado quase sempre por cantadores e sempre por tocadores com viola
da terra, violão e bandolim.
Tocadores (geral).
Tocadores (pormenor).
Bailadores I.
Bailadores II.
Bailadores III.
Bailadores IV.
No final do baile, o Pico na hora cor de violeta...
No final de uma chamarrita instrumental, os músicos
dizem: “Olha o Pico!”
Espalamaca
Praia
de Almoxarife, local onde terá desembarcado, em 1465, o flamengo Joss van Hurtere,
com o primeiro grupo de colonos, para povoar e explorar a ilha. Não sendo
consensual, há quem defenda que o topónimo Horta deriva do seu nome. Ao fundo,
à direita, a Graciosa.
Do alto do Miradouro de Nª Sª da Conceição, um
final de tarde sobre a Horta e o Monte da Guia. A presença da luz ainda
predomina largamente sobre a sombra e nada parece agitar a calmaria deste
imenso mar azul. Agora que a viagem chegou ao fim, apetece ficar ali sentado, entre
a ligeira brisa que espicaça o canavial, as vacas que pastam tranquilamente, a
visão limpa do canal e de costas para o asfalto.
Exposição "OASIS", de Nuno Sá, no Museu Fábrica da Baleia
Fotografias
de Nuno Sá sobre a vida selvagem nos mares dos Açores. Tentei, na medida do
possível, evitar reflexos da minha presença ou de luzes da sala. O espaço era
apertado e nem sempre os ângulos permitiam eliminá-los totalmente. Por vezes,
como no caso do Tubarão-Baleia, acabam por me dar uma visão fantasmagórica,
tornando-nos uma espécie híbrida, um objecto artístico contemporâneo. Outras, não sendo possível uma visão completa, preferi escolher um detalhe que
me chamasse mais a atenção. Seja como for, esta “reinterpretação” das
fotografias de Nuno Sá não invalida uma visita ao seu site. Portefólio e
informações biográficas: www.photonunosa.com
Cachalote no Pico.
Tubarão-Baleia em Santa Maria.
Tartaruga Boba em Santa Maria.
Cachalote em S. Miguel.
Moreão nas Flores.
Roazes Carvoeiros em S. Miguel.
Golfinhos em S. Miguel.
Tubarão Azul, Monte Submarino.
Porto Pim
Pico entre o Monte Queimado e o Monte da Guia. Ao
fundo, do lado direito, o Museu Fábrica da Baleia e a antiga Casa de Veraneio
da família Dabney, transformada, actualmente, em Museu.
No primeiro plano, Museus Dabney e Fábrica da Baleia.
Ao fundo, Monte Queimado e praia de Porto Pim.
Cachalote fêmea “voadora”! No Museu Fábrica da
Baleia assisti ao melhor documentário sobre a baleação nos Açores, realizado
pela BBC: “Baleia! Baleia! – The Whalers of Azores”.
Capa do livro “Os Dabney Uma família americana nos
Açores”, coordenação e prefácio de Maria Filomena Mónica. Entre 1806 e 1892,
John, Charles e Samuel Dabney instalaram-se no Faial, na qualidade de cônsules
dos EUA e desenvolvem uma intensa actividade comercial. Além da casa de
veraneio, tinham três casas na Horta: Cedars (actual residência oficial do
Presidente da Assembleia Regional dos Açores), Fredónia (hoje, descaracterizada
e transformada num colégio) e Bagatelle (abandonada…). Saíram da Horta quando foi
publicada nos EUA uma lei que proibia a acumulação de cargos diplomáticos com
outras actividades, numa altura em que a “centralidade açoriana” se transferia
para Ponta Delgada e enfrentavam a forte concorrência da família Bensaúde, no
abastecimento de carvão e na logística comercial marítima. Esta edição da Tinta
da China resulta de uma selecção de cartas, diários e artigos publicados na
imprensa, compilados em 3 volumes (1797 páginas!), organizados por uma
descendente, Roxana Dabney, sob o título: Anais
da Família Dabney. (Nota: para uma visão expresso sobre a importância
desta família de Boston para a Horta: Revista da Fundação Luso-Americana, Paralelo Nº4, Inverno - Primavera 2010, Edição
especial).
Museu Dabney, antiga casa de veraneio da família. O
excelente álbum fotográfico da família, organizado pelo Museu da Pesca da
Baleia de New Bedford, Massachusetts, EUA, pode ser visto aqui: http://www.flickr.com/photos/nbwm/sets/72157617176677924/detail/
Vista da praia de Porto Pim, a partir do interior
do Museu Dabney.
Aquário
de Porto Pim. Na verdade, uma Estação de Peixes, com fins científicos e
comerciais.
O Pico visto do Forte do Monte da Guia.
Caldeira do Inferno, Monte da Guia.
Vista da praia de Porto Pim, Monte Queimado e
Horta, a partir do Monte da Guia.
Vista da costa sul, a partir do Monte da Guia.
Horta
Sábado, 10 de Agosto de 2013, 20H30, hora local. No
intervalo do jogo da Supertaça FC Porto – Guimarães, fui à cozinha da casa onde
estava alojado e deparei-me, de repente, com este excesso da natureza. Raul
Brandão, n`As Ilhas Desconhecidas, resume, de forma magistral, o meu espanto:
“Uma coisa que exerce aqui uma verdadeira fascinação é o Pico – tão longe que a
luz o trespassa, tão perto que quer entrar por todas as portas dentro.”
Café Internacional. Praça Infante D. Henrique.
Interior do Café Internacional. Alguns desenhos expostos
no café são de Almada Negreiros.
Palmeiras do jardim da Praça Infante D. Henrique.
Diz-se que “Quem for à Horta e não pintar na
muralha, vai ter azar!” Uma superstição que mina a confiança dos mais cépticos,
pois há várias histórias de embarcações desaparecidas no mar que não deixaram
registo nos muros da doca. Pinturas na Marina da Horta.
Marina da Horta e Pico vistos do jardim da Praça
Infante D. Henrique.
Rua Tenente Valadim, onde se localiza o Café Sport,
mais conhecido por “Peter”.
“Cerca de 70% da superfície da Terra é coberta por
água tónica, o resto é gin!”. É este o lema de vida do mais famoso ponto de
encontro do Atlântico Norte, o Café Sport. Foi fundado em 1918, por Henrique
Azevedo, avô do actual proprietário, José Henrique Azevedo (JHA). Durante a IIª
Guerra Mundial, um oficial inglês, achando o pai de JHA, José Azevedo, muito parecido
com o seu filho, decidiu chamá-lo de “Peter”, para se sentir mais próximo do
seu filho, que tinha ficado em Inglaterra. A coisa pegou de tal forma que
acabou por suplantar o seu nome de baptismo. O Peter Café Sport acolhe, há
quase cem anos, pescadores, baleeiros, marinheiros, navegadores e turistas,
tornando-se um local de apoio, como bar, restaurante, posto de informações, correio,
casa de câmbios, delegação meteorológica e, com tudo isto, um símbolo da
amizade entre os povos. Hoje, alberga no 2º andar, uma das melhores colecções
do mundo de Srimchaw (arte de gravar os dentes e ossos de cachalote) e, ao lado
do café, existe uma moderna empresa dedicada à prática de variadas actividades
marítimas. (www.petercafesport.com
)
Interior do Café Sport. Momento Mini-Super Bock.
No dia 15 de Fevereiro de 1986, entre as 12H00 e as
16H00, aconteceu a maior tempestade do século XX nos Açores, em que o vento
atingiu a velocidade de 250
km/h . José Henrique Azevedo (JHA) fez fotografias
durante e após a tempestade. As ondas atingiram alturas entre 15 e 20 metros e a rebentação
chegou a atingir 60 metros .
Dois anos depois, querendo mostrar o acontecimento com mais facilidade aos
iatistas, JHA passou duas fotografias de diapositivo a papel. Descobriu então
que, no momento em que tinha tirado uma delas, se tinha formado, na rebentação
da onda, uma figura humana (cabelo, olhos, nariz, boca e barba), dando-lhe o
nome de “Neptuno na Horta”. (Nota: Neptuno - Deus Romano do mar, inspirado no
Deus Grego Posídon). Postal digitalizado. Foto: JHA, 15.02.1986.
Casa-Museu de Manuel de Arriaga (Horta, 1840 –
Lisboa, 1917), primeiro Presidente da República eleito. Exerceu o seu mandato
entre 24 de Agosto de 1911 e 26 de Maio de 1915. Está sepultado no Panteão
Nacional. No museu, podemos seguir a sua biografia política, encontrar alguns
objectos pessoais e conhecer o seu ideário republicano.
Numa pequena sala, assisti a um interessante filme -
instalação do realizador/cantor Zeca Medeiros, intitulado “Arriaga, o
Republicano”, que dramatiza a vida de Manuel Arriaga. A honradez, o estilo de
vida recatado e o trabalho ao serviço da Pátria fariam corar de vergonha (caso
ainda existisse alguma…) a maior parte da fauna política actual. A nomeação de
Pimenta de Castro, um “erro de casting” para os republicanos, levaria ao seu
fim político. Foi mais uma vítima da enorme instabilidade política da 1ª
República. Interior da Casa-Museu Manuel de Arriaga.
Junto ao Teatro Fayalense, no bairro da Conceição, encontra-se
uma das muitas casas da Horta de influência estrangeira que são testemunho das
vivências cosmopolitas da cidade: no século XIX, devido à presença dos Dabney
(ver parte IV – Porto Pim); no século XX, graças à instalação de diversas
companhias telegráficas inglesas, alemãs e norte-americanas e à escala dos
hidroaviões que atravessavam o Atlântico. Na actualidade, muitos destes edifícios
pertencem aos serviços administrativos da Região Autónoma dos Açores.
Vulcão dos Capelinhos - Actualidade
O Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos
(CIVC), inaugurado em 2007, encontra-se submerso nas areias vulcânicas,
enterrado até à cota do terreno antes da erupção. Neste espaço, é possível
fazer uma viagem virtual e inter-activa que, descreve o fenómeno ocorrido nos
anos 1957-58 e enquadra-o, no plano científico, com o vulcanismo a nível
mundial. No final da visita, pode-se subir ao farol (157 degraus!) e observar a
paisagem vulcânica circundante.
Debaixo das cinzas vulcão. Salão de entrada do
CIVC.
Escadas de acesso ao topo do Farol dos Capelinhos.
Vista
central do Vulcão dos Capelinhos, a partir do Farol.
Cornucópia (direita do vulcão).
Baía (esquerda do vulcão).
As toneladas de diversos materiais piroclásticos
soltos aqui depositados dão à paisagem de tons negros e avermelhados um misto
de aspecto lunar - marciano, que se acentua à medida que subimos e nos
aproximamos do cone central do vulcão. Trilho no Vulcão I.
Trilho no Vulcão II.
Trilho no Vulcão III.
Trilho do Vulcão IV.
Vista da costa para Norte Pequeno, a partir do monte
das cinzas submarinas.
A caminho do cone central (fase terrestre), numa
das vertentes do monte das cinzas (fase submarina), a vida vegetal parece
voltar timidamente...
No final da erupção, o cone central tinha 160 m . Encosta que ainda resiste
ao tempo e à erosão.
A erosão tem reduzido o volume do vulcão. Cerca de
metade do cone já colapsou.
A aridez majestosa do lugar. Monte das cinzas
submarinas.
Farol, baía e cais vistos do Vulcão dos Capelinhos.
Mais de cinquenta anos passados, ainda há muitos
vestígios da erupção e da crise sísmica associada que levaram ao abandono de
muitas habitações no Capelo e à fuga para os EUA de 15 mil faialenses, metade
da população da ilha! Em consequência da acção política dos senadores
democratas John O. Pastore e John F. Kennedy (que viria, em 1961, a ser Presidente e,
dois anos mais tarde, assassinado), houve uma autorização especial para
aumentar a cota da emigração açoriana, justificada pela perda de bens. Uma
cópia do documento foi oferecida ao CICV, pelo Embaixador dos EUA em Portugal.
União Vulcânico!... Só o nome intimida!... Se a
união faz a força, um vulcão leva tudo à frente! Quando eu era criança e via os
jogos do Varzim na 1ª divisão, acompanhado pelo meu pai, ouvia, quando o
árbitro “roubava” o clube da casa, os insultos da assistência mais exaltada,
que terminava sempre com o clássico, gritado a plenas guelras: “Vais ao mar,
filho da p…!”. Imagino, por breves instantes, no silêncio e na solidão deste
pelado negro empoeirado, um penalti mal assinalado contra o União e a revolta
da multidão: “Vais ao vulcão, filho da p…! “Arena Stadium” do União Vulcânico
(1990-2006), Capelo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)