domingo, 4 de outubro de 2015

Ponta Delgada – cidade

Nunca cá vivi, nem conheço a cidade na ponta dos dedos. No entanto, movimento-me sem grandes problemas na malha urbana do centro. Quatro anos de visitas a Ponta Delgada deram-me esse estatuto e fizeram com que adquirisse alguns hábitos de que gosto: tomar café no Largo da Matriz, comprar fruta no mercado municipal, espreitar a programação do Teatro Micaelense, folhear um livro na Livraria Solmar, imaginar aventuras transatlânticas nos veleiros da marina, comer peixe grelhado num restaurante da baixa, contemplar o horizonte no Miradouro da Ermida da Mãe de Deus, caminhar na Avenida Infante D. Henrique até às Portas do Mar e beber uma Melo Abreu Especial numa esplanada. Nesta viagem, acrescentei mais um: tomar chá verde Gorreana na Louvre Michaelense, uma antiga chapelaria centenária, reaberta recentemente e reconvertida numa mercearia gourmet. Num lindíssimo domingo de manhã (coisa rara, céu sem nuvens!), dou um passeio a pé pela cidade, ainda meio adormecida pela febre de sábado à noite e pela hora madrugadora, e despeço-me destes lugares e destes pequenos prazeres, sem certezas de um novo regresso, mas sempre com o renovado desejo de voltar.

Portas da Cidade, Praça Gonçalo Velho Cabral.

Portal Sul da Igreja Matriz de S. Sebastião.

Largo da Matriz.

Louvre Michaelense, Rua António José de Almeida.

Mercado Municipal.

Marina.

Rua do Arco.

Teatro Micaelense.

Rua de S. João.

Ermida da Mãe de Deus.

Portas do Mar.

Furnas – Povoação

“Alguns parques de maravilha, algumas casinhas caiadas de branco, duas ou três com aspecto fidalgo – e uma falsa tranquilidade, o ar de quem faz isto espalhafato para nos iludir e atordoar – talvez para nos apanhar desprevenidos… Mas eu tranquilo é que não durmo em cima do vulcão…” Assim descreveu Raul Brandão, em 1924, a sua passagem pelas Furnas, no final do seu périplo açoriano, n`As Ilhas Desconhecidas. Na realidade, o famoso vale é a cratera de um vulcão, adormecido desde 1630, mas que, através de manifestações em lume brando - fumarolas que impregnam o ar de enxofre, terras cinzentas que borbulham, vapores que cozem alimentos, piscinas termais de água quente - nos lembra, constantemente, a sua presença (http://siaram.azores.gov.pt/vulcanismo/vulcao-furnas/_texto.html).

O Parque Terra Nostra (PTN) é a maravilha das Furnas. Fundado em 1775, por Thomas Hickling, então Cônsul dos Estados Unidos, é reconhecido pela riqueza e diversidade de plantas e árvores endémicas e exóticas do seu jardim botânico (http://www.parqueterranostra.com/pt-pt/home.aspx). Tomar banho no tanque do parque é uma experiência única pela sensação de bem-estar. As águas ferrugentas são provenientes de uma nascente de água termal e encontram-se a uma temperatura que oscila entre os 35ºC-40ºC. Antes de relaxar o corpo e rejuvenescer o espírito, a única preocupação do banhista reside na escolha da roupa para evitar surpresas desagradáveis no final. No meu caso, não fiquei a perder: entrei na água com uns velhos calções brancos e saí com uns novos cor de tijolo!

Na mata das Furnas.

 Fumarolas junto à Lagoa das Furnas.

 Preparação do cozido das Furnas.

 Lagoa das Furnas.

 Um elefante furioso ataca o fotógrafo
 perante a indiferença do temível Leão das Furnas.

 Piscina termal e Casa do Parque I, PTN.

 Piscina termal e Casa do Parque II, PTN.

 Jardim botânico I, PTN.

 Jardim botânico II, PTN.

 Fumarolas no centro da vila I.

Fumarolas no centro da vila II.

Fumarolas no centro da vila III.

Lagoa das Furnas a partir do Pico do Ferro

Lagoa

Gorada a possibilidade de mergulhar na lagoa do ilhéu de Vila Franca e de usufruir do prazer de estar espraiado num antigo vulcão, a Caloura surgiu como uma espécie de plano B. É um local bastante tranquilo, com uma bonita enseada, um pequeno porto piscatório e recreativo, piscinas naturais e um convidativo bar-restaurante com vista para o mar. A escolha da Caloura para a construção do primeiro convento da ilha não terá sido alheia à beleza natural envolvente. Foi uma das surpresas mais agradáveis desta viagem.
Na Lagoa, na Avenida Vulcanológica (que nome extraordinário!), fica o Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores (http://ovga.centrosciencia.azores.gov.pt/), um espaço onde se podem conhecer, em contexto museológico e científico, as actividades geológicas da Terra, as particularidades do vulcanismo dos Açores, diversas características dos minerais e fósseis locais e de outras regiões do planeta. A visita começa com a entrada num túnel onde se escutam os sons de uma erupção efusiva (calma) e de outra pliniana (muito explosiva). Antes das boas vindas no salão principal, o visitante fica logo em sentido! Ninguém fica indiferente perante a paisagem açoriana e as suas poderosas forças telúricas!

Piscinas naturais da Caloura I, Água de Pau, Lagoa.

Piscinas naturais da Caloura II, Água de Pau, Lagoa.

Porto da Caloura.

Exterior da Casa dos Vulcões - OVGA, Lagoa.

 Interior do OVGA, Lagoa.

Amostra de um cropólito, pertencente à colecção de fósseis do OVGA.

O fim da Avenida Vulcanológica.

O encontro da lava com o oceano.


Vila Franca do Campo

Do alto da Ermida Senhora da Paz vê-se o recorte da costa, o ondulado da paisagem provocado pela existência de vários cones vulcânicos, o diálogo permanente entre o verde do campo e o azul do mar e, ao fundo, Vila Franca do Campo, a primeira capital da ilha, destruída por um terramoto em 1522. Ali nasceu, em 1562, um dos aventureiros mais desconhecidos dos séculos das Descobertas, o jesuíta Bento de Góis, o primeiro europeu a percorrer o caminho terrestre da Índia para a China, através da Ásia Central. No centro, à semelhança de outras vilas dos Açores, destacam-se o equilíbrio e a elegância dos edifícios mais antigos, na sua dualidade cromática branco-cinzento. O basalto fortalece aquilo que a cal suaviza. 
Contudo, a principal atracção de Vila Franca é o ilhéu, distante 500 metros da costa e 1200 metros do cais. No seu interior, há uma lagoa quase circular de 150 metros de diâmetro, com ligação ao mar. Estima-se que se tenha formado há 4-5 mil anos, em consequência de uma erupção vulcânica submarina. (http://siaram.azores.gov.pt/zonas-costeiras/ilheu-vila-franca-campo/ZonasCosteiras-Ilheu-Vila-Franca-do-Campo.pdf). No porto, existem ligações regulares com o ilhéu durante a época balnear, limitadas a 400 pessoas por dia. Em pleno Agosto, os bilhetes desaparecem em poucos minutos. Tal como outros, fiquei a ver barquinhos a caminho do ilhéu.



Praça Bento de Góis.

 Ilhéu de Vila Franca, visto da Ermida Senhora da Paz.

 Ilhéu de Vila Franca, visto da costa.

 Imagem aérea do Ilhéu.
Fonte: gcorrea.tumblr.com

Postal - Vila Franca a partir do Ilhéu, 1908. 

Povoação

Foi na Povoação que, conforme refere Gaspar Frutuoso, em Saudades da Terra, se iniciou, na década de quarenta, do século XV, o povoamento de S. Miguel, com gentes vindas de diversas regiões do Reino. Junto ao porto, há monumentos que assinalam este facto e encontra-se a Matriz Velha, uma das mais antigas igrejas da ilha, que, no decorrer do tempo, sofreu várias obras que alteraram a fachada e a estrutura originais. Não há praticamente turistas na vila, nem nas freguesias da costa Sudeste, entre a Serra da Tronqueira e o Atlântico. É neste fim do mundo micaelense que fica o Sanguinho, um lugar inspirado pelo nome comum da planta endémica Frangula azorica http://siaram.azores.gov.pt/flora/flora-vascular/sanguinho/1.html. A partir do Faial da Terra, é necessário percorrer, a pé, um trilho de 1.5 km, que sobe, em ziguezague, a encosta de uma montanha. Rodeado por matas e quedas de água, o povoado é constituído por vinte casas e foi abandonado nos anos setenta, por causa da ausência de condições de habitabilidade e da emigração. No passado, foi erguido para os agricultores ficarem mais próximos das suas terras e estarem protegidos das cheias e das tempestades que ocorriam no Inverno. Actualmente, várias habitações estão em processo de recuperação, recheadas com o conforto e os equipamentos modernos, com vista à ocupação de quem foge de multidões e faz do sossego o lema das suas férias.

Faial da Terra I.

Faial da Terra II.

Sanguinho I.

Sanguinho II

Sanguinho III.

Sanguinho IV.

 Matriz Velha, Povoação.

 Portal do Povoamento, Povoação.

Homenagem aos primeiros povoadores, Povoação.

Nordeste

Durante muito tempo, foi conhecido pela “décima ilha”, devido ao isolamento e à falta de comunicações. As horas custavam a passar e tudo parecia demasiado pequeno para se suportar durante uma vida. No romance Gente Feliz com Lágrimas, João de Melo descreve vários episódios que retratam a difícil condição humana dos nordestinos e as viagens épicas a Ponta Delgada. Hoje, chega-se rapidamente, mas são poucos os que chegam. Não há lagoas, caldeiras e fumarolas que atraiam grande quantidade de forasteiros. Os fluxos turísticos estão concentrados entre as Sete Cidades e as Furnas e deixam à margem o Nordeste e toda a costa Este, a mais preservada da ilha. É impossível não ficar impressionado com a exuberância da vegetação, a profundidade dos desfiladeiros e a pacatez das pequenas aldeias situadas à beira-mar. Assim se alcança a Ponta da Madrugada, a finisterra Oriental, depois de percorrer todas as curvas de uma velha e esburacada estrada regional. Entre o precipício e o continente são 1600 km de mar. Por momentos, fica-se a observar, debaixo de um céu de chumbo, a linha do horizonte na mais completa solidão. Como afirmou Onésimo Teotónio Almeida, os Açores serão sempre um território “para quem não tem receio de estar só a contar os matizes de cinzento e a agarrar na palma da mão bocados de tempo parado.”

Centro histórico da vila, com a Igreja Matriz ao fundo.

Traçado urbano no centro da vila.

Ponte dos Arcos.

Farol da Ponta do Arnel.

Ponta do Arnel.

Ponta da Madrugada I.

Ponta da Madrugada II.