A Fajã da Caldeira de
Santo Cristo localiza-se na costa norte da ilha e teve origem na sequência de
um desabamento de terras, resultante do sismo de 9 de julho de 1757. É a mais
conhecida de todas as fajãs de S. Jorge, não só pela existência de amêijoas na
sua lagoa, mas também pelo seu caráter religioso. No centro da fajã, há uma
ermida à qual está associada uma lenda, que relata a aparição de uma imagem do
Senhor Santo Cristo nas margens da caldeira.
Até aos anos setenta do
século passado, a fajã tinha uma pequena comunidade de mais de cem habitantes.
Após o sismo de 1980, foi praticamente abandonada e os seus antigos residentes
foram incentivados a não regressar devido à instabilidade das arribas. Ao
caminhar pelo trilho, podemos encontrar muitas casas abandonadas pertencentes a
um tempo que chegou ao fim. Em agosto, a fajã recupera alguma animação com a
chegada de um pequeno número de emigrantes ou turistas. No final do estio, fica
novamente entregue à meia dúzia de habitantes permanentes.
Chega-se calmamente a
pé, em 40 minutos, por um caminho plano junto à costa, desde a Fajã dos Cubres
ou com um pouco de esforço, num par de horas, descendo 5 km desde a Serra do
Topo. Preferi a segunda opção, pelo suplemento de beleza. Como escreveu o
ex-jornalista do Público, Nuno Ferreira, “A Fajã da Caldeira de Santo Cristo é
um lugar fora deste mundo. Talvez por não ter ainda eletricidade (nem água
canalizada, telefones fixos e asfalto, acrescento). Talvez por morar lá pouca
gente. Talvez pela atmosfera criada pela montanha em redor, pelo dançar
constante das nuvens, pela tranquilidade da lagoa e o rumor do mar ali em
frente.” A minha passagem pela fajã foi das experiências mais emotivas que vivi
no arquipélago, semelhantes à subida da montanha do Pico ou à longa caminhada
pela costa ocidental das Flores. Uma visita à Fajã da Caldeira de Santo Cristo
vale uma viagem ou um regresso a S. Jorge.
Uma nota final: a
circulação de motos quatro, condicionada a determinados horários, pelo caminho
costeiro, entre a Fajã dos Cubres e a Fajã da Caldeira de Santo Cristo, divide
opiniões, mas não altera nada do que foi escrito anteriormente.
Início do trilho. Há um ditado açoriano que diz
que num dia confluem todas as estações do ano. Eu tenho outra versão, na minha
opinião, mais ajustada com a realidade. Deixaria o inverno de lado, uma vez que
não há frio, e diria que, nos Açores, podemos encontrar, no mesmo dia,
variadíssimas combinações de outono, primavera e verão. Por exemplo, quando fui
à Fajã da Caldeira de Santo Cristo, saí a pé, do casulo abafado, húmido e
quente da Calheta, debaixo de um céu de chumbo. Uma típica manhã de “torpor
açoriano”, de “mormaço”, como lhe chamou Vitorino Nemésio. No parque eólico, em
plena serra, enfrentei a bruma na cara e a chuva fresca na cabeça que me
fizeram hesitar em relação à continuação da caminhada… “Que faço eu aqui
molhado e sem ver nada à minha frente?..” Por fim, quando cheguei ao início do
trilho, na costa norte, vi o Sol e um horizonte mais animador que me
acompanharam até à Fajã dos Cubres.
Descida da serra por uma vereda ladeada de hortênsias
ou hidrângeas.
No caminho para a Fajã I. Vista do vale
profundamente cavado, numa sucessão de lombas e ravinas, revestidas de matos de
montanha. Todo o trilho é um miradouro.
No caminho para a Fajã II.
No caminho para a Fajã III.
Primeira visão da Fajã da Caldeira de Santo
Cristo.
Chegada.
Laclinh, um simpático companheiro dos poucos
habitantes permanentes da fajã.
Ermida do Senhor do Santo Cristo, de 1835, com
romaria no primeiro Domingo de setembro, altura em que muitos devotos se
deslocam à fajã. O fim da festa religiosa marca o regresso à tranquilidade
secular.
Lagoa I. A paisagem envolvente, a existência de
amêijoas e a possibilidade de mergulho nas águas tépidas e transparentes fazem
da lagoa a principal atração da fajã.
Lagoa II.
Lagoa III.
Lagoa IV.
Na fajã, há um pequeno café/restaurante, O Borges, que está aberto durante os meses
de verão e nalguns fins de semana no inverno. A refrigeração é alimentada por
geradores. Quando por lá passei, havia apenas três homens no terraço exterior
que tratavam com umas minis a desidratação que uma boa conversa provoca… Eu
fiquei ao balcão a dar duas de treta com o dono e a cuidar da minha saúde...
Mercearia abandonada.