sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Introdução a S. Jorge

Vista aérea de S. Jorge. Voo Ponta Delgada – Sta. Cruz das Flores, 3 de agosto de 2012.

 Visto do ar, S. Jorge parece um submarino que flutua tranquilamente no Atlântico, apesar de a sua História ser marcada por violentos sismos e aterradoras erupções vulcânicas. É a mais central das ilhas que pertencem ao Grupo Central. No entanto, em terra, sente-se que é uma das mais periféricas do arquipélago. Como as restantes ilhas, padece de excesso de calma, isolamento e solidão. Para quem fica, com desejo de partir, são as condições que justificam uma fuga; para quem chega, com partida marcada, são as razões do seu encanto.

A teoria mais aceite para o nome da ilha está relacionada com a data em que foi descoberta, 23 de abril, dia de S. Jorge, provavelmente, num dos anos da década de 30 do século XV. O povoamento iniciou-se mais tarde, no início da segunda metade da mesma centúria, na zona de Velas, por portugueses oriundos de várias regiões, que se encontravam na Terceira. Neste pedaço de terra oblongo, que se estende por quase 55 km de comprimento e 7 km de largura, vivem, atualmente, perto de 9.000 habitantes, distribuídos por dois concelhos: Velas, o mais populoso, e a Calheta, onde instalei a minha base, na moderna e eficiente Pousada de Juventude.

Uma outra teoria para o nome da ilha está relacionada com a sua morfologia, por apresentar semelhanças com o dorso de um dragão, animal mítico que teria sido morto por S. Jorge. A sua forma alongada é constituída por três complexos vulcânicos (Topo, Manadas e Rosais) e em ambas as costas predominam declives muito acentuados, alguns com cotas de 600 metros! Na base destas falésias, encontram-se as fajãs, terras baixas e chãs, pequenas porções de terra que se desenvolvem em anfiteatro em direção ao mar. Na ilha, existem dois tipos: as detríticas, em maioria, que resultam de desabamentos de terras (como é o caso das Fajãs dos Cubres ou da Caldeira de Santo Cristo); e as lávicas, em menor número, que se formaram por escoadas de lava que penetram no mar (por exemplo, a Fajã do Ouvidor).

A ocupação humana das fajãs impôs-se desde o início do povoamento, principalmente na costa sul, devido à existência de solos férteis, de condições climáticas mais favoráveis e à abundância de água, que permitiram a exploração agrícola permanente e a criação de gado. Contudo, como estavam encravadas entre o mar e as altas paredes da montanha, tinham o isolamento como adversidade, que o homem procurou ultrapassar através da construção de caminhos ao longo da costa ou pela escarpa acima, com subidas em estilo Alpe d`Huez. Percorrê-los, nos dias de hoje, é um dos maiores prazeres que um viajante pode ter. Independentemente das suas caraterísticas, as fajãs de S. Jorge constituem uma das mais belas paisagens humanizadas dos Açores.

Referências bibliográficas:

CABRAL, Arlindo (1952), As Fajãs de S. Jorge, S. Miguel -Açores.

Guia do Parque Natural de S. Jorge (2011), Governo Regional dos Açores, Secretaria Regional do Ambiente e do Mar.