Vista aérea de S. Jorge. Voo Ponta Delgada –
Sta. Cruz das Flores, 3 de agosto de 2012.
Visto do ar, S. Jorge
parece um submarino que flutua tranquilamente no Atlântico, apesar de a sua
História ser marcada por violentos sismos e aterradoras erupções vulcânicas. É
a mais central das ilhas que pertencem ao Grupo Central. No entanto, em terra,
sente-se que é uma das mais periféricas do arquipélago. Como as restantes ilhas,
padece de excesso de calma, isolamento e solidão. Para quem fica, com desejo de
partir, são as condições que justificam uma fuga; para quem chega, com partida
marcada, são as razões do seu encanto.
A teoria mais aceite
para o nome da ilha está relacionada com a data em que foi descoberta, 23 de
abril, dia de S. Jorge, provavelmente, num dos anos da década de 30 do século
XV. O povoamento iniciou-se mais tarde, no início da segunda metade da mesma
centúria, na zona de Velas, por portugueses oriundos de várias regiões, que se
encontravam na Terceira. Neste pedaço de terra oblongo, que se estende por
quase 55 km de comprimento e 7 km de largura, vivem, atualmente, perto de 9.000
habitantes, distribuídos por dois concelhos: Velas, o mais populoso, e a
Calheta, onde instalei a minha base, na moderna e eficiente Pousada de
Juventude.
Uma outra teoria para o
nome da ilha está relacionada com a sua morfologia, por apresentar semelhanças
com o dorso de um dragão, animal mítico que teria sido morto por S. Jorge. A
sua forma alongada é constituída por três complexos vulcânicos (Topo, Manadas e
Rosais) e em ambas as costas predominam declives muito acentuados, alguns com
cotas de 600 metros! Na base destas falésias, encontram-se as fajãs, terras
baixas e chãs, pequenas porções de terra que se desenvolvem em anfiteatro em direção
ao mar. Na ilha, existem dois tipos: as detríticas, em maioria, que resultam de
desabamentos de terras (como é o caso das Fajãs dos Cubres ou da Caldeira de
Santo Cristo); e as lávicas, em menor número, que se formaram por escoadas de
lava que penetram no mar (por exemplo, a Fajã do Ouvidor).
A ocupação humana das
fajãs impôs-se desde o início do povoamento, principalmente na costa sul,
devido à existência de solos férteis, de condições climáticas mais favoráveis e
à abundância de água, que permitiram a exploração agrícola permanente e a
criação de gado. Contudo, como estavam encravadas entre o mar e as altas paredes
da montanha, tinham o isolamento como adversidade, que o homem procurou
ultrapassar através da construção de caminhos ao longo da costa ou pela escarpa
acima, com subidas em estilo Alpe d`Huez.
Percorrê-los, nos dias de hoje, é um dos maiores prazeres que um viajante pode
ter. Independentemente das suas caraterísticas, as fajãs de S. Jorge constituem
uma das mais belas paisagens humanizadas dos Açores.
Referências
bibliográficas:
CABRAL, Arlindo (1952),
As Fajãs de S. Jorge, S. Miguel
-Açores.
Guia
do Parque Natural de S. Jorge (2011), Governo
Regional dos Açores, Secretaria Regional do Ambiente e do Mar.