Yerevan
é mais antiga do que Roma, é a 12.ª capital da Arménia e foi a primeira cidade
soviética. Em 1924, o arquiteto Alexander Tamanian (1878-1936) iniciou o seu
plano de reconstrução urbana. Nasceu uma cidade circular, com a Praça da
República ao centro e uma rede de avenidas retilíneas em seu redor. Os principais
edifícios foram construídos em pedra vulcânica de tons rosa, com enormes arcos nas fachadas, inspirados na arquitetura medieval
arménia. Tamanian é inseparável de Yerevan tal como Gaudi de Barcelona ou
Niemeyer de Brasília.
Cascate. Enorme escadaria com vários terraços e obras de arte (interior e exterior), que pertencem
ao Centro de Artes Cafesjian. Obra-prima da arquitetura soviética projetada por Tamanian, construída, após a sua morte, entre 1971 e 2000.
“No
monte fronteiro a Erevan ergue-se um monumento a Stalin. O gigantesco marechal
de bronze avista-se de todos os lados. Se um astronauta vindo de um longínquo
planeta visse este gigante eráceo, elevando-se por cima da capital arménia,
perceberia de imediato que grande e terrível potentado o monumento celebra. (...) Ergue-se dele uma combinação estranha,
aflitiva: aquela expressão de força que só um deus pode possuir, de tão enorme
que é; e também uma manifestação do rude poder terreno – de soldadesca, de
burocracia.”
Vassili Grossman, Bem Hajam! – Apontamentos de Viagem à Arménia, p. 25-26, D. Quixote. Fonte da foto: www.wikipedia.pt
Percebe-se
a razão por que a obra literária de Grossman foi censurada na ex-URSS. Em 1962, quando a estátua foi retirada, Estaline, que tinha morrido em 1953, continuou
a fazer vítimas. Durante o processo de remoção morreram duas pessoas.
Mãe
Arménia, Parque Vitória. Construída em 1967,
substituiu a Estátua de Estaline, que tinha sido removida cinco anos antes. No
interior do pedestal em forma de basílica medieval, há um museu militar.
Inicialmente dedicado à 2.ª GM, o espaço foi adaptado e reintegrado na nova
realidade da república independente. Hoje, uma parte da exposição centra-se no
conflito de Nagorno-Karabakh (território de população arménia integrado no
Azerbaijão).
A
roda gigante, um clássico dos parques soviéticos e ocidentais. No parque há uma
salada russa de diversões: Órbita Soviética, Piratas das Caraíbas, Pokémons
nipónicos, comboios fantasmas, carrinhos de choque, comboios fantasma e... um
Rocky Balboa! A roda e o mundo dão muitas voltas.
Casa
de Xadrez Tigran Petrosian. Na Arménia, os alunos têm
aulas de xadrez obrigatórias a partir dos 6 anos de idade (único país do mundo
em que o xadrez desempenha um papel importante na educação). Construída em
1970, presta homenagem a um antigo campeão do mundo arménio-soviético (1963 e
1966).
Cinema
Rossiya. Construído entre 1968-75, era o maior cinema da
Arménia, com capacidade para 2500 espetadores. As suas formas lembram os dois
picos do Ararat. Após o fim da URSS, o cinema fechou e o edifício é, na
atualidade, um centro comercial.
Matenadaran
(Museu dos Manuscritos). A Arménia tem alfabeto próprio, composto por 39
letras, criado no século V, por Mesrop Mashots. Por exemplo, a frase “Yerevan á
a capital da Arménia” escreve-se Երևանը Հայաստանի մայրաքաղաքն է։ O Matenadaran
é a referência cultural do país.
Todas as capitais têm uma rua, praça ou avenida onde as grandes marcas internacionais assentam arraiais. Em Yerevan, a Avenida do Norte, que liga a Ópera à Praça da República, é o local de eleição da capital, onde, além dos produtos de consumo, passeiam madames e geórgios arménios.
Um Lada estacionado na Praça da República, com um pinheiro ambientador pendurado no retrovisor, decorado com a bandeira dos Estados Unidos.
Complexo cultural e desportivo Karen Demirchyan, construído entre 1976-84. Design único, parece um pássaro a abrir as asas. As estruturas de acesso estão abandonadas, o edifício central está ativo.
Complexo Memorial do Genocídio Arménio, Tsitsernakaberd, construído em 1966-1967. O Museu é dedicado ao genocídio arménio, realizado pelos turcos, entre 1915-23, em que foram assassinados, mortos à fome, deportados ou levados para campos de trabalho cerca de 1.5 milhão de pessoas.
Genocide Museum | The Armenian Genocide Museum-institute (genocide-museum.am)
Devido
ao genocídio, os arménios estão espalhados por todo o mundo. Enquanto a
população do país é pouco mais de 3 milhões, há mais de 8 milhões de pessoas de
origem arménia que vivem no estrangeiro, principalmente, na Rússia, Estados
Unidos e França. Alguns descendentes são bastante conhecidos, como o cantor
Charles Aznavour ou as manas socialite Kardarshian. Este blogue esteve em
vários bairros arménios: na cidade velha de Jerusalém (Israel), em Jolfa,
arredores de Isfahan (Irão) e em Nicósia (Chipre). Em Lisboa, a Fundação
Calouste Gulbenkian é a referência maior da diáspora arménia em Portugal.
O monumento é composto por uma estela de 44 metros, o
símbolo do renascimento nacional, e por doze lajes em círculo, que representam
as províncias perdidas para a Turquia. No meio, a chama eterna colocada a 1,5
metros de profundidade presta homenagem às vítimas. Modelo soviético clássico:
fogo numa cela de contemplação; geometria pesada para esmagar. Ao fundo, a
presença do Monte Ararat, onde, de acordo com a tradição bíblica, a Arca de Noé
terá ancorado após o dilúvio, é a lembrança permanente da ausência de um
território. Na Arménia, o sofrimento foi transformado em identidade.
Não visitei, mas fica o registo para os eventuais interessados. Em
Yerevan, tal como noutras capitais de leste, a memória do comunismo ou dos
tempos da ex-URSS transformou-se numa indústria que se converteu ao
capitalismo. Por 4.000 DRAM (cerca de 9,5€), o visitante tem acesso a uma
parcela do quotidiano pré-1991, através de um conjunto de objetos que foram
reunidos no Clube Soviético, uma espécie de revisitação nostálgica do filme
“Goodbye, Lenin!” em versão museológica made in Armenia. Para além da decoração
retro, há diversas atividades para saudosistas e curiosos da vida soviética,
desde a compra do excitante perfume Troynoy até uma inesquecível passagem de
ano!
Espreitar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=EXx9SlAKcIs